Notas de Celular

tudo o que pode caber num nokia 6131

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Motorista enxugando as lágrimas com pano de prato.

Reclamação

13 de janeiro, 696, 28543. 13h44min. 22868010.

Na rua

Brunelli, Thayanne e Grace.

Verão

Faz um calor insuportável, me movo devagar, deslizando entre pessoas que sempre tem mais o que fazer do que eu. Sigo pela calçada sentindo o calor que vem do meio das pernas do cara que me olha encostado na banca de jornal. Ele pega a toalhinha vermelha e passa na testa, o suor não tem liberdade para esocrrer até mim. Me sinto mareada pelo calor e tomo a toalha vermelha das mãos do homem, seco minha urgência calmamente enquanto ele me olha.

Sigo pela mesma calçada, distraindo as gotas que escorrem pelo meu joelho, até meu pé. Disfarço e me balanço em mim, me balanço por fora, balanço a perna como se minha urgência pudesse escorrer tão rápido quanto o suor nos meus joelhos.

Passo a mão na testa e me lembro que tudo o que fui hoje ficou na toalhinha vermelha, tudo o que fui e desejei. 41 graus,  não tenho forças para me locomover para além de mim.

as cidades invisíveis

Cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe.

Ítalo Calvino.

Trem

A minha última batalha contra a sacerdotisa superior foi aprovada diretamente por Satanás.

PLE

Tenho uma segunda língua, me sinto serpente língua dupla afiada pronta pra entoar qualquer canto, rito ou reza em dois tons, em duas vozes, em dois sentidos. Abro a boca e me sinto o ser mais poderoso do meu lugar. Sei rezar em outra língua e posso confundir deus com meus pedidos duplos. Tenho o drama e a esperteza convivendo dentro da minha boca, posso cuspir e escupir, posso deslizar calmamente meus dentes pelos lábios e gritar de boca aberta, como também posso sofrer com os lábios caídos, cansados de tentar.

Tenho minhas rugas como cicatrizes de guerra, tenho espanhol tango argentino controlando minhas memórias, tenho a calma e a interferência de quem abriu mão da posse da minha boca. Posso sorrir em português e chorar em espanhol. A dor, el dolor, o sorriso, la sonrisa. Sou dois gêneros se encontrando no beijo de dois idiomas.

Entre-sono

A noite, entre o dormindo e acordado, dormitando me vem sua voz, misturada na estridência da voz da vizinha. Seu tom de voz me dá mais sono e nojo pelo calor que me provoca numa noite de verão sem brisa.

Os outros

Freegels + você em 2001.

Ceguera

Não mudo meu nome para chorar, só fecho os olhos para que ninguém me veja. Não escondo o rosto, só fico cega dos outros. Depender da confusão é dilema de quem sabe viver em paz.